Psicopedagoga Cristiane Ferreira e advogada Cláudia Hakin, especialista em direito educacional.
Como saber se seu filho é superdotado?
De acordo com estudos científicos realizados pelo MEC, de 3 a 5% da população apresentam potencial acima da média estimada e pode ser considerado superdotado. Isso significa que mais de 6 milhões de brasileiros podem ser superdotados. Mas como descobrir se o seu filho tem alta habilidade ou é superdotado? A melhor idade para essa descoberta é na infância, pois neste período existem várias formas de identificar a superdotação. A opinião é compartilhada pela pedagoga Cristiane Ferreira, especialista em psicopedagogia, e pela advogada civilista especializada em Direito Educacional Cláudia Hakim, mãe de duas crianças superdotadas.
Meu filho é superdotado?
A melhor forma de descobrir a superdotação é prestando atenção ao desenvolvimento da criança. “Geralmente a criança superdotada apresenta destaque em alguma habilidade como, por exemplo, alfabetização precoce, aprendizado de instrumentos musicais ‘de ouvido’ e capacidade para resolver problemas matemáticos mentalmente e em poucos instantes”, destaca Cristiane Ferreira.
Para uma avaliação mais precisa é necessário procurar ajuda de especialistas, conforme sugere a Cláudia Hakim. “Essa avaliação deve ser feita com um psicólogo, neuropsicólogo ou psicopedagogo com formação em psicologia” e complementa: “o profissional deve ser bem criterioso e levar em consideração critérios quantitativos e qualitativos. O ideal é que ela seja feita em várias sessões (normalmente duram de 6 a 10 sessões)”.
Ainda segundo Cláudia Hakim existem alguns testes de inteligência (do tipo WISC ou RAVEN) que serão aplicados na criança pelo profissional que estiver a atendendo, mas não é apenas isso: “também serão feitas observações do comportamento, testes de personalidade e habilidades sociais. O profissional também deve conversar com a escola que a criança estuda, para saber como ela se comporta, academicamente”.
A pedagoga Cristiane Ferreira alerta os pais para que prestem atenção, pois nem sempre o desenvolvimento global da criança acompanha o desenvolvimento da área na qual a criança tem altas habilidades. “Por exemplo, uma criança pode ler fluentemente e ser muito insegura, pois seu emocional ainda é imaturo. Ou então, fazer cálculos mentalmente, mas ter dificuldades para escrever de forma legível, pois a coordenação motora fina, necessária para escrita, ainda não está desenvolvida”.
A pedagoga Cristiane Ferreira cita alguns indícios de superdotação: “Normalmente a criança superdotada é muito curiosa, não se adapta bem às regras e muito menos à rotina, não gostam de atividades simples, se entediam diante exercícios monótonos. Também costumam ter boa memória, capacidade de síntese, alto grau de curiosidade, vocabulário avançado e criatividade. Também gostam de se relacionar com adultos e lidam bem com ideias abstratas”.
Sinais dados pelos bebês
Para Cláudia Hakim, existem outros sinais de superdotação que ela percebeu em seus filhos. “Os sinais de que uma criança pode ser superdotada são: crianças que andam e falam mais cedo (andam com 8 a 10 meses), pronunciam algumas palavras com alguns meses e falam frases completas com um ano. Crianças que aprendem a contar cedo, a ler cedo (a partir dos 2 anos, quando falo em leitura não me refiro a saber ler algumas palavras, mas, ler frases, livros fáceis. Escrever antes dos 5 anos fluentemente. Crianças que demonstram muita curiosidade, agilidade, que são energéticas, questionadoras, sensíveis ou perfeccionistas”.
Tipos de superdotação
Existem diversos tipos de superdotação ou altas habilidades, entre eles estão: intelectual (rapidez de pensamento e memória elevada), acadêmica (rapidez de aprendizado e motivação pelas disciplinas acadêmicas de seu interesse), criativo (originalidade e imaginação), social (capacidade de liderança e habilidade no trato com pessoas), psicomotor (agilidade de movimentos, força e coordenação motora) e talento especial (artes plásticas, musicais e literárias).
Papel dos pais e da escola
Cabe aos pais e educadores dar assistência, conforme exemplifica Cláudia Hakim: “se a superdotação estiver localizada em outra área, como artística, os pais podem incentivar, tanto em casa, quanto em atividades extracurriculares as aulas de artes ou desenho. Se ela estiver localizada nos esportes (superdotação cinestésico / corporal), ela pode ser estimulada nos clubes, academias e locais que oferecem atividades esportivas, do tipo competitivas. Se for na música, existem bons programas que atendem tanto alunos da rede privada quanto pública de orquestras municipais, estaduais mirins, assim como nos conservatórios, escolas de música ou aulas particulares. Nas línguas, os pais podem procurar escolas de música ou contratar professores particulares”.
O importante, segundo a advogada é não esquecer que estas crianças necessitam de um atendimento diferenciado. “Nem todo aluno superdotado tem condições ou se beneficiará de uma aceleração de série, por exemplo. Muitos alunos que precisam da aceleração de série também podem receber de suas escolas um enriquecimento curricular, podem frequentar o NAAHS e as salas de recursos. Uma medida, não necessariamente, exclui a outra. Um aluno pode precisar de uma medida que não vai ser igual à do outro aluno, que também apresenta altas habilidades”.
A pedagoga Cristiane Ferreira lembra os pais e educadores de um fato muito importante: “As crianças superdotada são, antes de qualquer coisa, crianças. Os adultos ficam encantados com suas habilidades acima da média e, muitas vezes, acabam se esquecendo de que os superdotados tem necessidade de brincar, de relaxar e se divertir, como qualquer criança”. E complementa: “eles devem ser estimulados a ter amigos, incluindo amigos de sua própria idade, já que, normalmente, os superdotados preferem conversar com crianças mais velhas e adultos. Isso não deve ser proibido, apenas o contato com crianças de mesma faixa etária precisa ser incentivado”.
Como lidar com o estranhamento social
Um grande problema que pode afetar as crianças com QI alto é o estranhamento social. Para isso a experiente Cláudia Hakim, mãe de dois superdotados, dá algumas dicas: “Conversas com a escola e muita paciência. Às vezes é necessário uma terapia, isso pode ajudar estas crianças a entender que elas funcionam de uma forma ‘diferente’ do que as outras pessoas. Nem melhor, nem pior, apenas diferente e saber lidar com esta diferença e entender a reação que ela pode, eventualmente, causar nas outras pessoas”.
Cristiane Ferreira concorda que o acompanhamento psicológico seja necessário. “A terapia ou acompanhamento psicológico serve para que a criança possa lidar com suas emoções e para que seu talento e capacidade de aprender sejam direcionados e usados a seu favor”. A pedagoga acrescenta: “as crianças que com altas habilidades normalmente se irritam com facilidade ou não vem interesse nas atividades escolares, por considerarem muito fáceis ou sem sentido. O ideal é proporcionar um ambiente estimulante e desafiador”. E alerta: “É importante que a criança construa uma imagem positiva de si. Para isso, ela precisa se sentir acolhida nos grupos que frequenta: família, escola, círculo de amigos. A superdotação não deve ser considerada como um privilégio ou um superpoder, mas sim como uma característica”.
Como manter a autoridade sobre uma criança que te desafia intelectualmente?
As crianças superdotadas intimidam os adultos que as cercam, causando um certo desconforto. Mas os pais, professores e cuidadores tem sempre que impor a sua autoridade e mostrar quem é o adulto da “relação”. Segundo Cláudia Hakim, não importa o QI da criança, a autoridade dos pais e educadores deve ser respeitada sempre. “O respeito à autoridade é devido acima de tudo; superdotado ou não. Essa atitude é necessária com todo o tipo de criança. Não é porque ela é muito inteligente ou até mesmo mais inteligente do que os seus cuidadores, professores, pais e familiares, que ela tem o direito de não respeitar a autoridade”.
Para Hakim este é um dos deveres dos pais: “Acho que cabe aos pais colocar, desde cedo, o limite até onde vai a inteligência da criança e o respeito que ela deve a todos”. Mas, às vezes, podem haver alguns enfrentamentos pelas divergências de opiniões: “é algo comum para estes alunos, nesse caso cabe ao professor (que deve ser informado da condição daquele aluno), uma atitude mais firme. Uma boa sugestão para quando o professor não souber a resposta que o aluno pediu, ou tiver dúvidas sobre o que o aluno colocou como certo, é dizer que vai procurar a resposta e trazê-la na próxima aula”. E ela conclui: “Eu também costumo agir assim com os meus filhos quando eles me perguntam algo que eu não sei. Se estiver ao meu alcance, eu sento com eles, para pesquisar na hora que me perguntaram. Senão, pesquiso assim que possível. Procuro nunca deixá-los com dúvidas. Assim, ganhamos todos nós: os que são indagados e os alunos com altas habilidades, com o conhecimento adquirido”.