Deixar o filho ou a filha adolescente viajar sozinho, sem parentes ou algum amigo adulto por perto, só com “a galera”, é uma experiência encarada por muitos pais como um grande dilema. Deixar ou não deixar?
E esse fenômeno acontece cada vez mais cedo, principalmente em épocas de réveillon, carnaval e nas férias de inverno e verão.
O educador físico e empresário João Gambini, pai de Vítor (18 anos), se lembra bem da primeira vez que o filho pediu para viajar com os amigos. “Na ocasião, Vítor com seus 14 anos, queria viajar para o Guarujá com os amigos. Foi punk. Eu queria saber com quem ele iria, onde iria ficar (endereço inclusive), como ele iria, se na casa haveria adultos ou só moçada, se eu conhecia os amigos com quem ele estava indo, quanto tempo, quando voltaria, e como iriam se alimentar”, conta Gambini para em seguida completar:
“Fiz ele responder item por item como numa sabatina. Hoje me sinto ridículo com aquilo, mas eu precisava saciar minhas angústias, afinal ele estava indo sozinho (sem mim) para curtir a sua vida, ele estava voando.”
Sabatina é natural e bom
“Os pais não devem deixar todo o desenrolar da viagem correr sem interferências. É importante fazer todos os questionamentos, saber quem tanto vai, o endereço de onde irão se hospedar, telefones dos amigos, dos pais dos amigos. Também é importante estabelecer horários para se comunicar com o adolescente. Esse acompanhamento serve para dar a segurança necessária para os pais amenizarem suas preocupações”, defende a psicopedagoga, Cristiane Ferreira.
A preocupação que os pais sentem, segundo Cristiane, é natural e necessária, principalmente as relacionadas a violência, ao sexo e ao uso de álcool e drogas ilícitas. A falta de experiência dos adolescentes em relação a esses temas é o que leva a preocupação da maioria dos pais. Mas a psicopedagoga alerta para o risco do excesso de zelo, o que pode levar a uma paranoia paternal infundada.
Baixem essas asas, pais!
“Experiências como viajar sozinho com a turma são uma ótima oportunidade para colocar à prova a autonomia e a responsabilidade dos filhos. Essas viagens servem de rito de passagem, logo é interessante permitir que os filhos viagem. No final as viagens acabam funcionando como um teste importante para o desenvolvimento deles enquanto indivíduos”, explica Cristiane.
Mas a psicopedagoga também adverte, “Se o adolescente durante a infância não teve uma educação voltada para responsabilidade, cumprindo tarefas como arrumar a própria cama, bem como auxiliar em outras atividades domésticas, além de desenvolver atividades por conta própria, como ir para escola sozinho e fazer a tarefa sem ajuda, aí os pais devem redobrar a atenção no acompanhamento do desenrolar da viagem.”, pontua.
Do contrário, então seu filho sabe se virar, aí as atenções dos pais devem se voltar para as questões como o exagero com álcool, as drogas e o sexo sem proteção.
“No tocante ao álcool e às drogas, o diálogo preventivo deve ser uma constante no dia a dia da família, e algo realizado desde cedo. Os filhos devem ser orientados sobre os riscos das drogas. Mas a conversa deve ser levada, sobretudo, para a orientação de que mesmo que a maioria da turma esteja consumindo, não é vergonha alguma recusar um trago ou um gole. Pois a maioria dos adolescentes sente dificuldade em dizer “não” quando estão em grupos”, aconselha.
Já em relação ao sexo, vale lembrar que os adolescentes estão com os hormônios à mil. Festas como carnaval e ano novo combinam acesso fácil a bebidas e um clima de sensualidade no ar, logo o cuidado aqui deve se concentrar na responsabilidade, “Beber demais pode levar o(a) adolescente a esquecer de colocar a camisinha. Os pais devem conversar sobre os riscos de fazer as coisas por impulso, recomendando responsabilidade no consumo de bebidas, bem como provendo as camisinhas para os adolescentes. Porque muitos tem vergonha de comprar”, recomenda Cristiane.
Deixando eles voarem
No final das contas deixar os adolescentes viajarem com os amigos é algo natural, mas que funciona melhor para as famílias que desenvolveram bem durante a infância atitudes de responsabilidade e autonomia nos filhos. Um voto de confiança, que pode melhorar até mesmo o relacionamento entre pais e filhos.
“No final daquele verão ele (Vítor) e os amigos foram, curtiram e voltaram sem problemas. Depois desse primeiro passeio vieram muitos outros para até mais longe e o nosso temor continua ativo, mas é compensado pela confiança que vamos adquirindo a partir das atitudes que os filhos vão nos apresentando.” Conta o pai João aliviado, para em seguida concluir:
“Confio muito nele, como confio no meu filho mais velho e cada vez que um dos dois viaja ou fala em planos, o coração acelera, mas logo entra em velocidade de cruzeiro e tudo se resolve. A vida é assim não é? Não dá pra ser sempre como uma águia protetora. Criamos para voarem. Eles aprendem e voam.”
—
Colaboração: Psicopedagoga Cristiane Ferreira
Fonte: http://paisemapuros.com.br/adolescentes-que-querem-viajar-com-turma/