Por Letícia Iambasso*
“Só sei que nada sei”. A frase dita pelo filósofo Sócrates há milhares de séculos ainda é perpetuada na era pós-moderna. Sua utilidade pode ser vista como um pretexto de não saber, que nos convoca para a possibilidade de se obter conhecimento. Ou seja, assim como o comportamento social do filósofo, que nunca se desprendia de suas curiosidades e questionamentos internos, podemos nos mover em diversas direções para chegar até a informação e, assim, alcançar o conhecimento.Da mesma forma, Peter Drucker, considerado o “pai da administração e da gestão de empresa moderna”, criou o termo “trabalhador do conhecimento” para designar aqueles que usam as suas capacidades intelectuais no desempenho de uma atividade profissional. Assim, este trabalhador pode manifestar o seu conhecimento em qualquer trabalho, pois seus recursos são intelectuais, e não físicos.
De acordo com a psicopedagoga Cristiane Ferreira, o conhecimento é a relação que se estabelece entre uma pessoa e o objeto/fenômeno. “Conhecer, portanto, implica atuar de forma reflexiva sobre o mundo que nos cerca. Essa atuação necessita do pensamento, da compreensão”, explica.
Formada inicialmente em pedagogia, ela procurou nas áreas de psicopedagogia, coaching e dança educativa novas metodologias que promovem o bem-estar e o desenvolvimento humano de forma global. Teóricos como Lev Vygotsky, Jean Piaget, Sigmund Freud, Carl Jung, Tina de Souza, Paulo Freire, Edgar Morin e Bernard Charlot a ajudaram em sua formação e atuação profissional. “Em meu trabalho busco fazer com que a pessoa que está sendo atendida tenha consciência de seu potencial de realização e se perceba como parte integrante de uma teia de relações da qual fazem parte as outras pessoas e a natureza, e que está tudo interligado”, conta. Segundo ela, o objetivo é fazer também com que a pessoa sinta-se mais segura para atuar no mundo, realizar seus sonhos, traçar e cumprir suas metas e conviver de forma mais harmônica consigo mesmo e com a sociedade.
Atualmente a informação rápida é mais difundida e estimulada do que o conhecimento e a sabedoria. “Para a sociedade não ficar somente no superficialismo, é preciso mais reflexão e ação consciente. Caso contrário, corremos o risco de sermos muito avançados tecnologicamente e retrógrados filosoficamente. Mesmo com tanta tecnologia ainda há pessoas que morrem de fome ou de frio”, ilustra. A busca pela informação, sabedoria e conhecimento parte sempre de uma motivação. Esta motivação pode ser uma característica pessoal e pode ser gerada por uma série de fatores. “Um dos fatores mais comuns é a necessidade de ter segurança na sociedade e no mercado de trabalho. Isso faz com que as pessoas estudem para ingressar na faculdade ou para estar sempre atualizadas em relação à profissão que exercem”, relata Cristiane.
Ela acredita que a informação simples, sem compreensão dos fenômenos e sem a utilização adequada, não serve de base sólida. “Porém, o uso responsável do conhecimento é o alicerce para a construção de um mundo mais fraterno, justo, equilibrado e com respeito à vida”, reflete.
Já para Nelma Sá, educadora e coach da Universidade da Paz – UNIPAZ, não estamos conscientes da importância do conhecimento em nossas vidas, pois somos frutos de um padrão de raciocínio fragmentário. “Compreendemos o conhecimento somente na dimensão do ‘saber conhecer e do saber fazer’. É uma visão tecnicista e reducionista. O nosso desafio é reconhecer que o conhecimento humano pode integrar a ciência, a filosofia, a arte e a espiritualidade”, afirma. Além disso, ela diz que o conhecimento possibilita que o aprendiz se prepare nas dimensões do aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.
Psicologia e Gestão de Pessoas
A psicologia apresenta ao meio corporativo modelos de relacionamentos profissionais que valorizam a ética, o comprometimento com a organização e com os resultados. Para Anna Rizzo, psicóloga e docente da Faculdade Anhanguera UNIBAN, a gestão do conhecimento está inserida no contexto organizacional estrategicamente e as empresas investem cada vez mais no desenvolvimento técnico e cultural de seus colaboradores. “As exigências do mercado de trabalho quanto aos perfis dos profissionais e a competitividade acirrada instituída no ambiente de trabalho incitam a valorização do conhecimento e a busca contínua de inovação e reciclagem profissional”, descreve.
Em sua experiência cotidiana, Anna convive com diversos segmentos da sociedade e percebe que as pessoas buscam obter novos conhecimentos e até se esforçam para aprimorar suas performances profissionais e de vida. “A procura pela melhoria na formação educacional ocorre em todas as camadas sociais, assim como através de variadas faixas etárias, o que reflete a consciência da sociedade sobre o impacto do conhecimento nas conquistas pessoais e profissionais”, revela.
Já para Cristiane, a psicologia e a psicopedagogia ajudam também na identificação dos fatores que impedem ou dificultam que as pessoas acessem ou produzam conhecimentos. “O trabalho é individualizado, de acordo com as necessidades de cada caso. Porém, geralmente a psicopedagogia usa como terapia o que chamamos de ‘processos de autoria’, que engloba atividades de criação. É quando a pessoa pode se perceber capaz de criar e recriar: pode ser um desenho, uma pintura, escultura, uma poesia, música, um texto ou uma dança”, esclarece.
Educação
Desde pequenos somos estimulados para a educação. Da pré-escola ao ensino primário e secundário, nossos pais, familiares, vizinhos e professores se preocupam em nos ensinar o que também foi passado a eles, sem questionamentos ou novos métodos. Porém, estimular a criatividade e o aprendizado é um desafio para professores e escolas, já que as crianças são criativas por natureza. “O papel da escola é formar cidadãos atuantes e conscientes de seu papel na sociedade. Porém, cabe ressaltar que o conhecimento ensinado nas escolas é o conhecimento científico e ele não o único conhecimento necessário para a vida humana. Não se pode considerar que somente o que é aprendido na escola é o suficiente”, opina Cristiane.
Segundo ela, é importante buscar, desde cedo, outras fontes de conhecimentos além das instituições oficiais de ensino, como a família, a religião e o pensamento filosófico. “E também a natureza, que é uma ótima fonte de conhecimento”, ressalta.
Já na visão de Nelma, o grande desafio está relacionado com o “como” educamos. Independente da estrutura, é possível ampliar o olhar e proporcionar uma educação que prioriza as potencialidades, as diferenças, e as diversidades centradas no aprendiz e não em programas rígidos, que extraem a originalidade que emana de cada pessoa.
Dicas práticas para a busca do conhecimento
As três especialistas indicam o que podemos fazer para nos manter atualizados, bem informados e no caminho do conhecimento:
· Tenha relações intergeracionais. É muito importante se relacionar com pessoas de diferentes idades;
· Conheça outras culturas, povos, lugares, religiões, classes sociais sem, no entanto, perder a própria identidade;
· Leia sobre variados temas;
· Viaje;
· Utilize a internet;
· Observe a natureza, pois ela tem muito que ensinar;
· Descubra sua real vocação;
· Seja receptivo a todas as informações provenientes da globalização;
· Conecte-se às inovações tecnológicas, para utilizá-las favoravelmente em sua vida particular e profissional;
· Estude continuamente para conseguir acompanhar as rápidas mudanças conceituais e tecnológicas;
· Invista no aprimoramento da língua portuguesa e na aprendizagem dos idiomas mais falados universalmente;
· Informe-se sobre os acontecimentos nacionais e mundiais;
· Atualize-se quanto aos eventos culturais;
· Reveja paradigmas: quebrar posturas preconceituosas, saber conviver e respeitar a diversidade, reflete uma performance contemporânea que suscita valores nobres.
*Matéria publicada originalmente na Revista Ser Espírita versão impressa n. 25
Fonte: https://serespirita.com.br/a-era-do-conhecimento/