Helô levou tempo para descobrir que a fotografia poderia ser um bom hobby. Apenas quando sua filha Nina nasceu ela percebeu que gostaria de se dedicar mais aos cliques. Justamente nessa época, os cuidados com o bebê diminuíram ainda mais o tempo livre. “Quando ela cresceu um pouquinho, surgiu uma oportunidade de fazer um curso de fotografia e eu fui”, conta.
Para se apaixonar pelo hobby, é preciso se libertar de conceitos antigos e abrir a cabeça para novas possibilidades. “Achava que ia ser fotógrafa de natureza, porque amo animais”, fala ela. “Mas com o tempo descobri que gosto mesmo é de gente.” Segundo Helô, a chave para descobrir o que traz motivação é o autoconhecimento. “Olhar para dentro de si e tentar perceber o que dá prazer já é um bom começo”, afirma. Prestar atenção a como outras pessoas reagem ao que você faz também. “Incentivo externo é uma energia poderosa”, avalia.
VIVER A ARTE EM UM NOVO PAÍS// A mudança do Brasil para a Alemanha foi decisiva para que o designer gráfico e ilustrador André Levy pudesse se dedicar aos seus projetos pessoais de ilustração e intervenções urbanas. Morando em Frankfurt, descobriu que teria mais tempo livre do que tinha em São Paulo.
Em um novo país, sem dominar a língua local e ainda com poucos amigos, André encontrou no hobby um jeito de ocupar seu tempo. Produzia manualmente pequenos adesivos com suas ilustrações e colava pela cidade. Os adesivos hoje já se transformaram em cartazes e grafites espalhados pelo mundo. Além deles, a série Tales You Lose, pinturas de personagens da cultura pop feitas sobre moedas de diversos países, foi um trabalho reconhecido internacionalmente. Na vida de André, trabalho e hobby são muito próximos, já que ele é diretor de arte em uma grande agência de publicidade. Do lado de fora, no entanto, ele se sente mais livre: “As regras do que é cabível ou não no trabalho me impediam de explorar um lado mais pessoal de minha criatividade”, diz.
A paixão de André é tão grande que ele adaptou sua carga horária para se voltar aos projetos pessoais. Para quem não tem a sorte de ter horários de trabalho flexíveis, a dica é fazer do hobby um compromisso pessoal. “Mesmo se não puder colocar no topo da lista de prioridades, invista algum esforço para fazê-lo acontecer regularmente”, sugere.
DO RASCUNHO PARA AS PRATELEIRAS// O redator publicitário Leandro Leal sempre gostou de escrever ficção. Mesmo as redações de escola com temas comuns, como Dia do Índio, viravam aventuras mirabolantes. A vida o levou para o mundo corporativo, com jornadas de trabalho longas e pesadas. Mas a vontade de contar histórias não morreu.
Então, durante anos, o tempo fora da agência era dedicado a escrever. Blogs, pequenos contos e, depois, um passo além: o primeiro romance. “Eu me dedicava no horário de almoço, madrugadas e finais de semana”, conta Leandro. “Acordava mais cedo, dormia mais tarde, sem preguiça.” O esforço compensou: em 2014 o livro Quem Vai Ficar com Morrissey? (Edições Ideal) ganhou as prateleiras das livrarias.
Para chegar lá, Leandro levou a atividade de lazer a sério, e trabalhou para desenvolver seu talento. O conselho que ele dá para quem quer se engajar em um hobby é simples (e eficiente): procure se divertir no processo.
CHEIRINHO BOM DE CAFÉ// A relações públicas Tereza Cristhina não gostava de café. Quando o cheiro era muito forte, ela chegava a sentir dor de cabeça. Mas quando a rotina da vida adulta apertou, e ela precisou conciliar horas de estágio com as aulas da faculdade, começou a ver em cada xícara um aliado contra o sono. Aos poucos Tereza começou a diferenciar os tipos de café, processos de produção e modos de preparo. “Busco muita informação científica e técnica, tanto na Internet quanto em revistas sobre o assunto. Visito cafeterias, e faço cursos para sempre aprender mais”, conta ela, que acabou de concluir um curso de barista – o profissional especializado em café.
Tereza trabalha em uma seguradora. Para não prejudicar nem o hobby nem a profissão, a receita é separar bem as coisas: “Busco manter ambas em harmonia, sem levar trabalho para as horas vagas nem o hobby para o escritório”.
Foi um cochilo fora de hora que fez Tereza tomar contato com o universo do café. Por isso ela acredita que o importante, no momento de encontrar um hobby ou uma paixão, é estar atento ao que acontece em sua volta. “Coisas simples ou complexas que ocorrem na vida podem fazer com que você descubra algo muito bacana dentro de você ou para você”, diz. E se você gosta de algo, mas acha que falta talento, não se boicote: a prática leva ao aprimoramento.#
“Em primeiro lugar é importante procurar sempre deixar a mente tranquila. Uma mente agitada, que não consegue se desligar do trabalho e vive atolada de preocupações, terá mais dificuldades para criar, pois a concentração é uma habilidade necessária ao processo criativo.”
Ao iniciar o dia, antecipe mentalmente suas tarefas e faça um planejamento do que precisa fazer. Isso pode acontecer na cama, depois de você se espreguiçar – como os gatos fazem — e antes mesmo de levantar. Dessa forma o dia já começa melhor, sem atropelos. Pessoas que estão sempre correndo, atrasadas, em geral também têm mais dificuldade para criar. É preciso saber gerenciar o tempo para a criatividade aflorar!
Antes de dormir, faça uma síntese do seu dia. Esse ‘filme’ mental, além de ajudar você a se organizar melhor, exercita a memória. Estudos sugerem que a memória retém melhor as informações que você ‘insere’ no cérebro antes de adormecer. Faça isso de maneira tranquila, evitando pensamentos punitivos, do tipo “que absurdo, não consegui terminar o relatório hoje!” A ideia é estimular a mente a ‘produzir’ ideias originais e encontrar soluções para problemas durante o sono. Ler antes de dormir, seja ficção ou algum livro relacionado ao setor da sua vida que anda precisando de uma injeção de criatividade, também ajuda. E formular mentalmente a pergunta ou o problema que você quer ver resolvido é uma outra forma de incentivar a mente adormecida e, quem sabe, ajudar você a acordar com alguma ideia surpreendente na cabeça.
Inventar coisas novas durante o dia também estimula a criatividade: variar uma receita, arrumar o armário de outra forma, combinar cores diferentes na hora de se vestir, experimentar fazer algumas coisa com sua mão não dominante — como trocar de lado o mouse do computador, por exemplo –, escrever, fazer desenho livre, dobraduras, aprender um novo idioma, são algumas das inúmeras possibilidades de fugir do óbvio. E excelentes exercícios para criatividade!
“Os hobbies e atividades de lazer relaxam, dão prazer e melhoram a disposição de modo geral. Também podem estimular áreas do cérebro responsáveis pela atenção, memória, planejamento estratégico”, explica a psicopedagoga Cristiane Ferreira. Por isso, adotar e cultivar um hobby envolvente e divertido é parte essencial da receita para uma vida mais criativa.